“Para a construção da paz, não podemos ter uma pedagogia de submissão, mas de transformação”, afirma Vernor Muñoz, da Campanha Global, no Fórum Político de Alto Nível da ONU

Evento da sociedade civil, paralelo ao Fórum, tratou do ODS 4 (Educação de qualidade) e ODS 16 (Paz, Justiça e Instituições Eficazes); encontro foi promovido pela Education & Academia Stakeholder Group (EASG)

 

“A pedagogia para a construção da paz não pode ser uma pedagogia de submissão, mas de transformação, de enfrentar as opressões e as doutrinações. A paz é uma metodologia e não somente um fim em si mesma. É preciso endereçar as relações de poder e o modelo de governança verticalizado no mundo e na educação”, defendeu Vernor Muñoz, da Campanha Global pela Educação, em evento paralelo ao Fórum Político de Alto Nível da ONU nesta quarta (10/07), em Nova York (EUA).

O encontro, que reuniu representantes da sociedade civil global, discutiu o cenário de avanço insuficiente para o cumprimento dos ODS 4 (Educação de qualidade) e ODS 16 (Paz, Justiça e Instituições Eficazes) da Agenda 2030 da ONU para o Desenvolvimento Sustentável.

Andressa Pellanda, coordenadora geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, relata e analisa, abaixo, as contribuições de lideranças de entidades que têm incidência internacional pelo direito à educação. A perspectiva desse direito humano foi enfatizada pelos presentes, o que significa promover a educação para a paz, rejeitar completamente os autoritarismos e a militarização da educação e da sociedade, e incluir de forma central a educação nos debates para o financiamento adequado para o cumprimento dos ODS.

O evento foi promovido pela Education & Academia Stakeholder Group (EASG), do qual a Campanha Brasileira faz parte.

É ESSENCIAL INTENSIFICAR O FINANCIAMENTO E REFORMAR A GOVERNANÇA GLOBAL FRENTE A AVANÇO LENTO DE CUMPRIMENTO DO OBJETIVO DE EDUCAÇÃO NA AGENDA 2030 DA ONU, AVALIA ANDRESSA PELLANDA

Pellanda acompanha in loco as intervenções dos países nos debates do Fórum.

Suas análises são reproduzidas neste texto. São detalhadas a partir das contribuições das lideranças dos Estados-membros da ONU e do Relatório de Monitoramento 2024 dos ODS, também da ONU. 

Ela e Helena Rodrigues, coordenadora de monitoramento e avaliação e advocacy internacional da Campanha, incidem politicamente, acompanham debates e participam da realização de eventos paralelos ao Fórum nesta semana.

Abaixo, leia o texto de Andressa Pellanda, adaptado de seu perfil no X (antigo Twitter).

 

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Estamos debatendo "Paz, Justiça e Instituições fortes por meio da Educação" em evento paralelo do #HLPF2024, realizado pelo Education and Academia Stakeholder Group (EASG). 

“Quando tive um processo de direitos humanos que era autoritário, eu não coloquei fé no que ele estava ensinando, porque não praticava uma pedagogia de autonomia e diálogo", comentou Jacob Blasius, diretor-executivo do Global Student Forum. Ele reforçou que os jovens precisam ser parte das conversas, inclusive sendo aliados para uma boa tomada de decisão global.

"Educação é um direito humano possibilitador, ou seja, favorece os outros direitos humanos. E é muito duro não ouvir sobre educação neste Fórum Político de Alto Nível. Como endereçar os problemas de clima sem educação?", criticou Vernor Muñoz, da Campanha Global pela Educação.

"Tivemos que ir buscar os países para inserir educação de forma central e transversal nos debates da Cúpula do Futuro", comentou Muñoz. Ele explica que educação é um caminho para construir a paz, se fizermos uma educação libertadora. Mas ela pode também ser instrumento do contrário, se for uma educação autoritária e instrumental para a guerra.

"Educação precisa estar baseada em uma perspectiva colaborativa e não de construir lideranças individuais, em um formato competitivo, com ganhadores e perdedores. Precisamos de uma educação a serviço da felicidade e da dignidade das pessoas", defendeu Muñoz.

O debate no evento paralelo sobre ODS 4 e ODS 16 está trazendo como a pedagogia para a construção da paz não pode ser uma pedagogia de submissão, mas de transformação, de enfrentar as opressões e as doutrinações. A paz é uma metodologia e não somente um fim em si mesma. É preciso endereçar as relações de poder e o modelo de governança verticalizado no mundo e na educação.

Israel Coelho, da Campanha Latino-Americana pelo Direito à Educação (CLADE), apresentou como a agenda da digitalização na educação pode ameaçar não somente o direito à educação e o ODS 4, como também a força das instituições, a agenda do ODS 16. Ele ressalta que as tecnologias precisam ser abertas, gratuitas e soberanas e que a comunidade educacional pode e deve promover tecnologias digitais.

Katarina Popovic, da International Council for Adult Educaetion (ICAE), colocou que 67 países, inclusive democracias, produziram novas leis para restringir a liberdade de expressão e de assembleia. Ela lembra que países autoritários falharam em responder à pandemia de covid-19 e a compromissos de direitos humanos.

O financiamento na militarização foi de 2.443 trilhões de dólares no mundo. "E as pessoas falam que não há dinheiro para a educação. Há, sim, o problema é que não vai para educação. Enquanto a guerra for o maior negócio, teremos mesmo problemas em garantir a paz", comentou Popovic.

"Uma mensagem bem clara para os tomadores de decisão é que não podemos somente focar no que pode ser medido em números para garantir uma educação para a paz". Financiar condições adequadas para uma educação libertadora e limitar o gasto militar é um dos caminhos apontados por Popovic.

Incluir o debate global na educação é crucial para garantir uma educação para a paz, defende Katarina Popovic. Aproveito a deixa para compartilhar minha tese de doutorado, que trata da governança global da educação.


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(Foto: Divulgação/ONU)