SEDUC-SP gasta quase R$ 500 milhões em plataformas sem melhorar resultados educacionais, apontam pesquisadores

Nota Técnica de GEPUD e REPU questiona punições a professores e diretores escolares pelo não atingimento de metas de uso de plataformas, diante da comprovada ineficácia pedagógica das ferramentas digitais adquiridas pelo governo de São Paulo desde 2024

 

Nota Técnica “Plataformização e Controle do Trabalho Escolar na Rede Estadual Paulista”, produzida pelo Grupo Escola Pública e Democracia (Gepud) e pela Rede Escola Pública e Universidade (REPU), mostra que o uso de plataformas digitais pela rede de São Paulo não melhorou o desempenho das escolas estaduais no Saresp (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar de São Paulo) no ensino médio.

Com dados da própria Secretaria Estadual de Educação, os pesquisadores identificaram que, mesmo as escolas que atingiram as metas de uso das plataformas estipuladas pelo governo não registraram melhora na avaliação.

Reportagem da Folha de S.Paulo de 03 de julho dá mais detalhes da pesquisa.

“Do ponto de vista dos resultados de aprendizagem, os dados indicam uma correlação fraca ou inexistente entre o uso das plataformas e a melhoria no desempenho das escolas no Saresp. Escolas que melhoraram os seus resultados no Saresp entre 2023 e 2024 aparecem tanto entre aquelas que mais utilizam as ferramentas digitais oferecidas pela Seduc-SP, quanto entre aquelas que menos utilizam as plataformas”, diz o estudo. 

A Nota Técnica aponta que, em 2024, o governo paulista destinou R$ 471 milhões para a aquisição de plataformas, contratadas sem a apresentação de evidências de sua eficácia pedagógica. Os pareceres utilizados para justificar as compras carecem de fundamentação técnica e não consideram os impactos negativos do uso prolongado de telas na aprendizagem. 

“Conclui-se que a política de plataformização do ensino vigente na rede estadual paulista amplia a sobrecarga de trabalho, prejudica a autonomia dos/as profissionais da educação e apresenta retornos insatisfatórios em termos de melhoria de aprendizagem dos/as estudantes”, afirma o estudo.

A Nota Técnica examina os efeitos da política de plataformização implementada pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP), que introduziu o uso obrigatório de plataformas digitais na gestão e na prática pedagógica das escolas estaduais a partir de 2024. 

O estudo identifica cinco eixos principais dessa política: (1) uso compulsório de materiais didáticos digitais e plataformas de atividades para os estudantes; (2) centralização da formação docente por meio de videoaulas e formulários padronizados; (3) intensificação do monitoramento digital sobre todas as dimensões da vida escolar; (4) vigilância do tempo de uso das plataformas, com potenciais punições a professores/as e diretores/as escolares; e (5) discurso que associa utilização de plataformas e resultados das escolas no Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp). 

A análise aponta a falta de transparência da Seduc-SP sobre o funcionamento e os conteúdos das ferramentas digitais. Plataformas como o “Super BI” centralizam indicadores que impactam diretamente na avaliação do trabalho docente e da gestão escolar.

O estudo foi elaborado pelas professoras e pesquisadoras Vera Bohomoletz Henriques (USP / Frente Popular em Defesa da Escola Pública), Andreza Barbosa (PUC-Campinas / Gepud / REPU) e Márcia Aparecida Jacomini (Unifesp / Gepud / REPU), e pelo professor e pesquisador Leonardo Crochik (IFSP / REPU). A revisão técnica é do professor e pesquisador Fernando Cássio (USP / REPU / Campanha Nacional pelo Direito à Educação). 

(Foto: Divulgação/Governo de SP)