Comitê SP repudia declarações racistas e contra professoras/es e servidoras de vereadora de São Paulo

“A Câmara Municipal não pode ser palco de privilégios enquanto escolas fecham e professores/as são desrespeitados/as”

 

COMITÊ SÃO PAULO DA CAMPANHA NACIONAL PELO DIREITO À EDUCAÇÃO

NOTA DE REPÚDIO ÀS DECLARAÇÕES RACISTAS E AO DESRESPEITO AOS/AS PROFESSORES/AS E SERVIDORES/AS DA CIDADE DE SÃO PAULO (PDF)

 

São Paulo, 30 de abril de 2025.

É com profunda indignação que o Comitê São Paulo da Campanha Nacional pelo Direito à Educação repudia as declarações da vereadora Cris Monteiro (NOVO) durante a sessão de 29 de abril na Câmara Municipal de São Paulo. Enquanto professores/as e servidores/as públicos/as lutavam por reajustes salariais justos após anos de congelamentos e perdas salariais, a parlamentar optou por um discurso que escancara privilégios de classe e raça, desviando o debate das urgentes pautas da educação e do serviço público.

O contexto não pode ser ignorado: 

[...] agora quando vem uma mulher branca aqui falar a verdade pra vocês, vocês ficam todos nervosos. Por quê? Porque uma mulher branca, bonita e rica incomoda muito a vocês. Mas eu estou aqui representando uma parte importante da população, que me elegeu. Porque eu faço o que é certo. E eu não vou defender essas pessoas que deixam as nossas crianças na sala de aula fazendo greve [...]

a declaração foi proferida durante discussões sobre os direitos de trabalhadores/as que sustentam serviços essenciais à população. Professores/as que há semanas estão em greve por condições dignas de trabalho e salários compatíveis com sua importância social foram especialmente ofendidos/as por esse tipo de postura.

A fala revela múltiplas camadas de violência, dentre elas: violência contra a luta de servidores/as, ao tentar transformar uma legítima manifestação política em questão pessoal; violência racial, ao usar características de privilégio branco como argumento político; violência institucional, ao desviar o foco das pautas urgentes da melhoria da qualidade da educação pública.

É fundamental lembrar que o Brasil possui legislação específica para combater o Racismo (Lei 7.716/89) e que a educação é terreno fundamental para essa luta (Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira). Enquanto professores/as se arriscam diariamente para implementar essas políticas antirracistas em salas de aula superlotadas e com recursos escassos, assistimos a representantes públicos usando de privilégios para silenciar debates necessários.

A greve dos/as professores/as não é mero capricho - é o grito de quem sustenta um sistema educacional que precisa combater diariamente o racismo estrutural, a desigualdade social e a precarização do trabalho docente. Apoiamos a luta de professores/as por melhores salários e condições de trabalho, e exigimos que a Casa respeite os/as servidores/as públicos/as e avance na implementação das leis antirracistas na educação municipal.

A Câmara Municipal não pode ser palco de privilégios enquanto escolas fecham e professores/as são desrespeitados/as. Educação de qualidade se faz com respeito a trabalhadores/as da educação e com políticas antirracistas concretas.

Comitê São Paulo da Campanha Nacional pelo Direito à Educação

(Foto: Douglas Ferreira/Rede Câmara SP)