Ausência da educação em debate sobre clima: “se políticas de justiça climática e educação não forem integradas, não vamos mesmo conseguir enfrentar a crise global”, afirma Andressa Pellanda no Fórum Político de Alto Nível da ONU

Em dia de debates sobre a ação climática no evento em Nova York (EUA), apenas dois países falaram sobre a educação como um pilar para assegurar o enfrentamento à crise climática; Brasil não faz essa menção e destaca plataforma para municípios

 

Em 3 horas de debate, dentro do dia da ação climática no Fórum de Político de Alto Nível da ONU, em Nova York, somente dois países falaram sobre a educação como um pilar para a garantia de enfrentamento à crise climática: Índia e Irlanda. 

“Se continuarmos nesse caminho de separação em silos entre as políticas de educação e justiça climática, não vamos chegar nunca a garantir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) em 2030, porque sequer teremos parte da população viva em 2030. Ou a integração dos ODS só vai ter servido para integração de parcerias público privadas e para a privatização?”, questiona Andressa Pellanda, coordenadora geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.

O Brasil, que será o anfitrião da próxima Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30), a ser realizada em novembro de 2025, em Belém (PA), destacou o papel central do país na luta contra as mudanças climáticas, priorizando esse foco no financiamento para o desenvolvimento sustentável.

A representação brasileira ressaltou o projeto de implementação da plataforma Adapta Brasil como uma ferramenta para entender os impactos climáticos nos municípios, ajudando a planejar e mitigar os efeitos adversos, que afetam desproporcionalmente os mais pobres e em maior situação de vulnerabilidade. 

Andressa Pellanda está em Nova York (EUA) acompanhando in loco as intervenções dos países nos debates do Fórum.

As análises de Pellanda são reproduzidas neste texto. São detalhadas a partir das contribuições das lideranças dos Estados-membros da ONU e do Relatório de Monitoramento 2024 dos ODS, também da ONU. 

Ela e Helena Rodrigues, coordenadora de monitoramento e avaliação e advocacy internacional da Campanha, incidem politicamente, acompanham debates e participam da realização de eventos paralelos ao Fórum nesta semana.

Leia abaixo a análise completa de Pellanda, publicada em seu perfil no X (Twitter), que apresenta os destaques do evento. 

 

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Segundo momento de debates no #HLPF2024. Hoje de manhã, estamos debatendo clima. Nada de novo: 2023 foi o ano mais quente na história. A situação é alarmante.

Por outro lado, metas de financiamento estão aumentando.

Ainda que com financiamento mais elevado, a situação segue demandando mais ação urgente. O impacto dos desastres climáticos é maior e mais mortal.

"Populações que menos colaboraram com a crise climática são aquelas que mais são tocadas pelos seus efeitos: as populações em maior situação de vulnerabilidade ao redor do mundo", lembrou Katherine Calvin, Cientista-Chefe da NASA e Consultora Sênior de Clima no #HLPF2024.

O prefeito de Niterói, Axel Schmidt Grael, está aqui na ONU trazendo a experiência da cidade como uma das áreas urbanas com maiores áreas verdes da América Latina. Ele reforça que é preciso uma coordenação local e global para enfrentar o enfrentamento das mudanças climáticas e que o Brasil está trabalhando em uma governança multinível para tal.

Maria Mahl, representando a ESG Book, traz que ainda falta avançar em termos da colaboração das empresas e do setor privado não somente na redução das emissões como em financiamento para enfrentar a crise. Ela explica que é necessário implementar os 3D,  essenciais para enfrentar as mudanças climáticas de forma eficaz.

1. Demanda por dados climáticos: para tomar decisões informadas sobre políticas e ações climáticas, é crucial ter acesso a dados precisos e atualizados sobre o clima.

2. Divulgação de dados: transparência é fundamental na luta contra as mudanças climáticas. Além disso, facilita a colaboração entre diferentes setores e países.

3. Diagnóstico e acompanhamento de emissões e ferramentas: ferramentas de diagnóstico ajudam a medir e avaliar essas emissões, enquanto o acompanhamento contínuo garante que as ações implementadas estejam tendo o efeito desejado e permite ajustes conforme necessário.

O representante dos povos indígenas mencionou em reunião no Fórum que os povos indígenas são os mais atacados e sofrem mais com as crises ambientais, mas também são os que mais contribuem para enfrentá-las. Persistindo com modos de vida sustentáveis, eles devem ser exemplos de conservação e ações eficazes. Acrescentou ainda que é essencial que os estados incluam fundos de perdas e danos e fundos específicos para os povos indígenas.

O representante da Colômbia acabou de mudar a metodologia de intervenção, não fez um discurso lido, e mostrou que a presidência do país fez uma série de ações de não exploração de petróleo e de minas de carbono, em prol do enfrentamento do desastre climático. E isso impactou a situação financeira do país. E não tiveram retorno de quitar dívida em troca dessas medidas por parte dos países do norte global. E essa é a grande demanda que o sul global traz para esse momento do mundo e para o Fórum. Tocou na ferida com classe e força.

A representante do Brasil apontou que o Brasil será o anfitrião da próxima Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP), em Belém (PA), destacando seu papel central na luta contra as mudanças climáticas. Trouxe também a plataforma Adapta Brasil como uma ferramenta para entender os impactos climáticos nos municípios, ajudando a planejar e mitigar os efeitos adversos, que afetam desproporcionalmente os mais pobres e vulneráveis. 

Segundo ela, no G20, o Brasil está priorizando o financiamento para o desenvolvimento sustentável, com foco especial em questões climáticas. 

No GT de Educação e Cultura do C20, incluímos uma recomendação focada nessa agenda de justiça climática e educação: "Incorporar justiça climática e sustentabilidade por meio da educação ambiental e do aprendizado baseado na natureza dentro das políticas públicas é vital para cultivar a alfabetização climática, reconhecendo os impactos desproporcionais das mudanças climáticas nos grupos vulneráveis. Expandir o acesso à infraestrutura e práticas sustentáveis nos currículos e treinar profissionais com uma abordagem interdisciplinar, intergeracional e multissetorial com o engajamento de crianças e jovens."

Em 3 horas de debate, no Fórum, somente DOIS países falaram sobre a educação como um pilar para a garantia de enfrentamento à crise climática: Índia e Irlanda (esta dedicou boa parte de seu discurso para esta argumentação e está de parabéns). Vale uma menção à Espanha, que trouxe uma agenda integral, ligada às populações mais vulnerabilizadas e em cooperação direta com a agenda social. 

Se continuarmos nesse caminho de separação em silos entre as políticas de educação e justiça climática, não vamos chegar nunca a garantir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável em 2030, porque sequer teremos parte da população viva em 2030. Ou a integração dos ODS só vai ter servido para integração de parcerias público privadas e para a privatização?

(Foto: Divulgação/ONU)