Países devem democratizar acesso a recursos digitais abertos e garantir decisões centradas nos direitos humanos, defende Alessandra Nilo, do GT 2030, no Fórum Político de Alto Nível em debate sobre tecnologia

Representante do Grupo Maior de Mulheres no Fórum Político de Alto Nível da ONU, defende implantação ética de inteligência artificial (IA), transparência algorítmica, defesa da privacidade dos dados, segurança e responsabilidade


Os Estados-membros da ONU, que se reúnem nesta semana no Fórum Político de Alto Nível, devem avançar em estratégias de conhecimento aberto e bens públicos digitais para democratizar o acesso a recursos e “garantir decisões centradas nos direitos humanos”.

É o que defendeu Alessandra Nilo, representante oficial do Women’s Major Group (Grupo Maior das Mulheres), em evento oficial do Fórum, nesta segunda (08/07), em Nova York (EUA), na discussão com os países sobre “Ciência, tecnologia e inovação: acionando a transformação e apoiando soluções orientadas pela ciência”.

O Grupo Maior das Mulheres é uma instância de acompanhamento do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 5, de gênero, da Agenda 2030 das Nações Unidas. A Campanha Nacional pelo Direito à Educação também integra o grupo.

Os avanços mencionados, que incluem aqueles relacionados à educação, devem envolver “a implantação ética de inteligência artificial (IA)”, defesa da privacidade dos dados, segurança, responsabilidade e princípios de proteção de direitos, pois são fundamentais para a tomada de decisões baseadas em direitos humanos.

Nilo, que é cofacilitadora do Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para Agenda 2030 (GT Agenda 2030) – espaço do qual a Campanha também faz parte – e cofundadora da Gestos - Soropositividade, Comunicação e Gênero, destacou que é necessário promover o acesso equitativo à informação, ao conhecimento e aos recursos digitais, garantindo uma comunicação inclusiva”.

No debate, Joyeeta Gupta, professora da Universidade de Amsterdã e da Earth Commission (Comissão da Terra), comentou que a tecnologia não pode causar mais problemas ainda além dos que ela foi criada para resolver.

Andressa Pellanda, coordenadora geral da Campanha, pontua que na educação as tecnologias aumentaram desigualdades. Embora a tecnologia tenha ampliado as oportunidades educacionais, também aumentou as desigualdades, deixando milhões de pessoas, especialmente em comunidades marginalizadas e de baixa renda, sem acesso à educação. Em relação a conectividade e uso de tecnologias nas escolas, o relatório da ONU aponta que entre 2021 e 2022, a taxa de crescimento do acesso à Internet para fins pedagógicos nas escolas dobrou globalmente e até triplicou em algumas regiões. No nível secundário superior, 91% das escolas tinham acesso à eletricidade, 81% tinham computadores e 69% estavam conectadas à Internet. 

Disparidades significativas permanecem, particularmente na África Subsaariana, onde menos de um terço das escolas primárias e cerca de metade das escolas secundárias tinham acesso à eletricidade, dificultando o uso da tecnologia. “No Brasil, temos uma disparidade imensa de acesso a internet também, mas não é o único desafio - precisamos de regulação, proteção de dados, conectividade significativa, fortalecimento das plataformas públicas, etc. É o que colocamos na Nota Técnica sobre o programa Escolas Conectadas”, analisa Pellanda.

Campanha no Fórum
“A gente está aqui especificamente para tratar da relação da educação com esses objetivos, especialmente o objetivo de clima e os que tocam em tecnologia e inovação", pontua Andressa Pellanda, coordenadora geral da Campanha. Ela lembra que a entidade também vai abordar o fortalecimento da democracia no ODS 16 (Paz, Justiça e Instituições Eficazes).

Andressa Pellanda e Helena Rodrigues, coordenadora de monitoramento e avaliação e advocacy internacional da Campanha, participam presencialmente do Fórum nesta semana.

Como parte do Grupo Maior das Mulheres, a Campanha incide por igualdade de gênero no Fórum Político de Alto Nível da ONU.

Helena Rodrigues enfatiza que a incidência da Campanha no Fórum Político de Alto Nível da ONU acontece “junto a mulheres de todo o mundo” pela igualdade de gênero, o ODS 5.

A cada dia da semana uma cor é sugerida aos participantes do Grupo Maior das Mulheres e do Fórum. A cor desta segunda (08/07) é o amarelo, que destaca a incidência pelo direito econômico das mulheres: igualdade de gênero nas condições de trabalho, nas oportunidades e nos salários.

A Campanha integra o Grupo Maior de Mulheres desde junho de 2022.

Fórum
É neste ano que o Brasil e outros países latino-americanos vão passar por uma Revisão Nacional Voluntária no Fórum, que é uma forma de monitoramento da implementação dos ODS no país.

A Campanha integra, enquanto sociedade civil, a Comissão Nacional dos ODS, que faz um trabalho de monitoramento dos objetivos. A entidade incide especialmente sobre o ODS 4 (Educação) e o ODS 5 (Gênero), além de outros que têm relação direta com a educação.

O propósito de entidades que integram o GT da Sociedade Civil para a Agenda 2030 -- que a Campanha compõe -- é pressionar o Estado brasileiro a cumprir compromissos internacionais e nacionais relacionados aos ODS. Enquanto a sociedade civil disponibiliza o Relatório Luz da Agenda 2030, o Estado brasileiro vai apresentar um relatório oficial do Estado.

Andressa Pellanda lidera a entidade em debates e eventos paralelos que vão tratar do balanço que os países-membros da ONU, incluindo o Brasil, devem fazer em relação aos compromissos firmados para o cumprimento dos ODS.

Todos os ODS serão avaliados, mas neste ano serão destaque o Objetivo 1 (Erradicação da Pobreza), Objetivo 2 (Fome zero e agricultura sustentável), Objetivo 13 (Ação Climática), Objetivo 16 (Paz, Justiça e Instituições Eficazes) e o Objetivo 17 (Parcerias e Meios de Implementação).

(Foto: Divulgação/ONU)