Nota de Pesar

A Campanha Nacional pelo Direito à Educação lamenta profundamente a tragédia ocorrida na manhã de hoje (05/04/2023), que resultou em quatro crianças mortas e em quatro feridas no Centro de Educação Infantil Cantinho Bom Pastor, no Vale do Itajaí (SC)

 

NOTA DE PESAR (PDF)

 

Brasil, 05 de abril de 2023.

 

A Campanha Nacional pelo Direito à Educação lamenta profundamente a tragédia ocorrida na manhã de hoje, 05 de abril de 2023, que resultou em quatro crianças mortas e em quatro feridas no Centro de Educação Infantil Cantinho Bom Pastor, no Vale do Itajaí, em Blumenau, SC. 

A curiosidade, as descobertas e as brincadeiras cotidianas iniciadas por Bernardo Cunha Machado (5 anos), Bernardo Pabest da Cunha (4 anos), Larissa Maia Toldo (7 anos) e Enzo Marchesin Barbosa (4 anos) na Educação Infantil, foram violentamente cessadas. Deles foram tiradas as oportunidades do convívio familiar, das festas de família, das aventuras e escolhas da adolescência, das vivências da fase adulta. 

Assistimos estupefatos a mais um caso de violência brutal no ambiente escolar. O nó na garganta e a revolta que sentimos não são nada frente à dor inimaginável dos pais e o desespero da comunidade escolar. Faltam palavras para expressar o horror. 

A violência contra as escolas é reflexo de um conjunto de problemas estruturais na sociedade brasileira que têm sido amplificados por comportamentos e atitudes diametralmente opostos à construção de uma cultura de paz. Continuamos a contabilizar mortes e feridos, a perder para a violência os amores de alguém.

Se antes, tomávamos conhecimento de situações como essas apenas pelos meios de comunicação, com notícias internacionais, como algo longe de nós, hoje vivenciamos os impactos de ataques cada vez mais frequentes em nossas escolas. Estamos contabilizando de forma acelerada, mais e mais casos, como o de hoje, que, infelizmente, se soma aos mais de 20 ataques ocorridos em escolas desde os anos 2000, de acordo com o relatório "Ultraconservadorismo e extremismo de direita entre adolescentes e jovens no Brasil: ataques às instituições de ensino e alternativas para a ação governamental", elaborado por 11 pesquisadoras e ativistas dedicadas à educação pública e à prevenção do extremismo de direita no Brasil.

É importante ressaltar que o aumento de ideias e comportamentos fascistas, de extrema direita entre a população, da cultura de ódio, racismo, bullying, xenofobia e intolerância em suas mais variadas formas, contribuem diretamente para um cenário propício a atitudes cada vez mais violentas na sociedade, seja nas escolas, ou fora delas. Programas como a educação militarizada, via Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares, um projeto contra a gestão democrática e contrária aos princípios que garantem o direito à Educação, transformando a escola em um espaço violento, opressor, que coíbe o pensamento crítico, a autonomia e a cultura da paz. Aliada a esse modelo educacional extremamente retrógrado e autoritário, soma-se a política bélica propagada nos últimos quatro anos, pelo governo Bolsonaro, que promovia o armamento da população, contrariamente aos avanços em termos de políticas de segurança pública.

O debate sobre a violência nas escolas não pode se limitar à segurança pública, os ataques que vêm ocorrendo no Brasil e os contextos em que se inserem precisam, necessariamente, ser objeto de nossa reflexão e ação, passando obrigatoriamente pelo debate sobre o fim da militarização das escolas, do desarmamento da sociedade, da ausência do Estado na promoção de uma cultura de paz, de políticas públicas da saúde mental para sua população e, fundamentalmente, é preciso uma resposta firme contra ações e discursos fascistas.

A Campanha se solidariza com os familiares, amigos, trabalhadores do Centro de Educação Infantil Cantinho Bom Pastor, profissionais da educação, estudantes e suas famílias neste momento de dor, e conclama toda a sociedade a refletir criticamente sobre o impacto negativo da disseminação da intolerância e de ações extremistas para o aumento da violência contra as escolas e contra a sociedade como um todo.