Para evitar atentados em escolas, Daniel Cara recomenda estratégias a grupo de transição do Governo Lula
Relatório exploratório encaminhado ao grupo de transição da área de educação do Governo Lula recomenda estratégias para evitar atentados em escolas. A notícia foi publicada na coluna Painel, da Folha de S.Paulo, desta segunda (12/12).
O documento foi organizado por Daniel Cara, professor da FE/USP e dirigente da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. Cara compõe o GT do governo de transição da área da educação.
Com a colaboração de pesquisadoras ligadas à Rede da Campanha e especialistas no tema (veja os nomes abaixo), foi produzido o relatório de 50 páginas que sugere ao Governo Lula formação continuada de professores sobre o extremismo de direita e como enfrentá-lo, para identificar alterações de comportamentos nos jovens, como interesse incomum por assuntos violentos e atitudes agressivas, recusa de falar com professoras e gestoras mulheres, uso de expressões discriminatórios e exaltação a ataques em ambientes educacionais ou religiosos.
O material começou a ser elaborado após ataques a tiros em duas escolas em Aracruz, no Espírito Santo, que deixaram 4 mortos e 13 feridos no final de novembro.
Neste ano, a Campanha emitiu Nota de Pesar referente a essa tragédia e também a que resultou em três adolescentes baleados na Escola Estadual Professora Carmosina Ferreira Gomes, em Sobral (CE).
O relatório aponta que esses eventos começaram na primeira década dos anos 2000 no Brasil e, desde então, foram 16 ataques, dos quais quatro aconteceram no segundo semestre de 2022, com 35 mortos e 72 feridos.
Segundo o documento, que será incorporado ao relatório do GT, os ataques violentos às escolas estão relacionados a um contexto de escalada do ultraconservadorismo e do extremismo de direita no país e a falta de controle e criminalização desses discursos e práticas – que são fortemente relacionados a gênero e orientação sexual. Os alvos de cooptação desse discurso são majoritariamente brancos e heterossexuais, que têm as mulheres como alvos preferenciais.
“É importante não tratar como ‘terrorismo’ todos os casos de cooptação de adolescentes pelo extremismo de direita, pois ao focalizar exclusivamente na prevenção de atentados, exclui-se a possibilidade de prevenir que adolescentes sejam cooptados por grupos e discursos de extrema-direita que não necessariamente incentivam o cometimento de atos terroristas”, diz o documento.
O relatório alerta que esse não é um problema apenas da escola, mas sim da sociedade, que atinge a escola. “Contudo, é inegável que as violências nas escolas - um fenômeno que contempla inúmeras expressões - colabora com a emergência do extremismo de direita e a consequente cooptação de adolescentes e jovens”, destacam as pesquisadoras.
O relatório propõe que o poder público deve fomentar o combate à desinformação nas salas de aula por meio de uma educação crítica.
Nesse sentido, aponta prejuízo na redução gradativa da presença de conteúdos de disciplinas das ciências humanas e sociais aplicadas, como geografia, história, filosofia e sociologia.
Essa defasagem foi agravada com a implementação da Reforma do Ensino Médio e a instituição de itinerários formativos muitas vezes desligados a essas áreas de conhecimento.
“O material também sugere a criação de leis que proíbam a criação e fechem as centenas de academias e institutos militares mirins, que ofertam cursos militares para crianças e adolescentes e colocam crianças, a partir de 5 anos de idade, para manusear, quando não armas de verdades, réplicas destas”, repercute a Folha.
Além de Cara, participaram da construção do relatório as pesquisadoras Andressa Pellanda, Catarina de Almeida Santos, Claudia Maria Dadico, Fernanda Rasi Madi, Fernanda Orsati, Juliana Meato, Letícia Oliveira, Lola Aronovich, Luka Franca, Marcele Frossard e Paola da Costa Silveira.
(Foto: Reprodução/ Nova Onda Online)