Abecs e Comitê MS da Campanha repudiam ataque contra professora de Sociologia da rede estadual de Mato Grosso do Sul

"A publicação ocorreu no dia 18 de junho de 2024 e fere gravemente a liberdade de cátedra e o direito constitucional do exercício da profissão docente", alertam entidades

 

A Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais (Abecs) divulga nota de repúdio em relação à publicação, nas redes sociais, do vídeo do ex-deputado estadual de Mato Grosso do Sul, cassado por fraude eleitoral, Rafael Tavares, em pleno ataque contra uma professora de Sociologia, mestra em Educação e servidora efetiva da Rede Estadual de Ensino de Mato Grosso do Sul.

“A publicação ocorreu no dia 18 de junho de 2024 e fere gravemente a liberdade de cátedra e o direito constitucional do exercício da profissão docente. Em fala proferida em sua conta, no perfil do Instagram, o senhor Rafael Tavares ataca a professora, publicando gravação da aula sem permissão, incitando que se faça perseguição ao dizer que ‘a professora abortista fica doutrinando os alunos em Campo Grande’, relata em nota a Abecs.

“O atual contexto brasileiro, de ataques às comunidades escolares, com ameaças compartilhadas nas redes digitais, com discursos de ódio contra as minorias sociais, com preconceitos e discriminações, o alvo novamente é a escola. Seguiremos defendendo a educação e o ensino das humanidades – com especial atenção às Ciências Sociais – tão atacadas diuturnamente pelo ressentimento, ignorância e pelo obscurantismo”, afirma a entidade.

O Comitê MS da Campanha Nacional pelo Direito à Educação também assina a nota – veja todas as entidades subscritoras abaixo.

 

NOTA DE REPÚDIO (PDF)

Nós, abaixo assinados, constituídos por entidades representativas de professores, da Educação Básica e do Ensino Superior, pesquisadores e por acadêmicos de graduação, mestrandos e doutorandos, MANIFESTAMOS O NOSSO REPÚDIO E INDIGNAÇÃO em relação à publicação, nas redes sociais, do vídeo do ex-deputado estadual de Mato Grosso do Sul, cassado por fraude eleitoral, Rafael Tavares, em pleno ataque contra uma professora de Sociologia, mestra em Educação e servidora efetiva da Rede Estadual de Ensino de Mato Grosso do Sul. A publicação ocorreu no dia 18 de junho de 2024 e fere gravemente a liberdade de cátedra e o direito constitucional do exercício da profissão docente. Em fala proferida em sua conta, no perfil do Instagram, o senhor Rafael Tavares ataca a professora, publicando gravação da aula sem permissão, incitando que se faça perseguição ao dizer que “a professora abortista fica doutrinando os alunos em Campo Grande”. A publicação de imagens e áudio – sem autorização, fere a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), inclusive no que se refere a dados sensíveis sobre a educadora. Ressaltamos que tal ação ataca não somente a professora como toda uma classe de profissionais que se prestam ao ensino, a reflexão, ao respeito aos princípios democráticos e aos direitos humanos – sem exclusão de ideias e pensamentos. A liberdade de refletir sobre o mundo à nossa volta é um dever seminal da docência – sobretudo como continuidade e desenvolvimento do direito à educação aos jovens estudantes em relação aos temas que orbitam o inconsciente coletivo – de maneira crítica e com responsabilidade.

Considerando que o referido ataque, por si só já subjaz uma tentativa de aviltamento do exercício da profissão docente e fere os princípios constitucionais ao não assegurar a promoção dos direitos humanos, ao atacar de maneira contundente uma professora fica demonstrado pelo ex-parlamentar um total desapreço pela educação.

Em um cenário de volta ao ambiente democrático e de respeito às leis, tais declarações não podem ser toleradas, muito menos confundidas com a liberdade de expressão. Um ex- parlamentar, ao desrespeitar a escola, os alunos e a docência, demonstra o seu despreparo como alguém que se propõe a representar os cidadãos.

O atual contexto brasileiro, de ataques às comunidades escolares, com ameaças compartilhadas nas redes digitais, com discursos de ódio contra as minorias sociais, com preconceitos e discriminações, o alvo novamente é a escola. Seguiremos defendendo a educação e o ensino das humanidades – com especial atenção às Ciências Sociais – tão atacadas diuturnamente pelo ressentimento, ignorância e pelo obscurantismo.
 

Associação Brasileira de Ciências Sociais (ABECS)
Regional ABECS-MS
Campanha Nacional pelo Direito à Educação - Comitê MS
Campanha Nacional em Defesa das Ciências Humanas na Educação Básica
Associação Brasileira de Ensino de História (ABEH)


(Foto: Divulgação/Jornalistas Livres)