As investidas contra o Brasil continuam sem precedentes. Em pouco mais de cinco meses os dois ministros já somam cortes desde o ensino básico até no campo da pesquisa de doutores. Com tantas mazelas, está claro que o “critério” para sentar-se na cadeira mais alta do Ministério da Educação é ter ódio contra a ciência, escolas, professores e alunos.
O MINISTÉRIO ANTI-EDUCAÇÃO DE BOLSONARO
Daniel Cara, coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação deu uma entrevista sobre o contexto político do Brasil e sobre as mudanças recentes no Ministério da Educação para o portal Jornalistas Livres. Selecionamos os melhores trechos abaixo: Com cinco meses de governo, dois ministros na conta do Ministério da Educação (MEC), e um número muito maior de polêmicas e ataques contra a própria pasta, Bolsonaro é, sem dúvida, o presidente brasileiro recordista quando o tema é absurdos. O ministro, por enquanto, é Abraham Wentraub, que substituiu o colombiano, sem talento para a pasta, Ricardo Vélez Rodríguez.
JL: Os últimos ataques e cortes, anunciados nas últimas semanas, contra a educação pública, desde o fundamental até programas de pós-doutorado, anunciado pelo ministro da Educação, a criação da CPI das três estaduais (USP, Unicamp e Unesp) na Assembleia Legislativa de SP e o ataque do Bolsonaro nominando as Ciências Humanas, Filosofia e Sociologia em especial, parecem ter sido a manifestação prática desse discurso de demonização das Humanidades e, agora, de toda a ciência. Como isso se articula no governo Bolsonaro e aliados, como, por exemplo, Doria? DC: Os ultraliberais querem reduzir o custo da educação pública. E parte do curso de educação pública, que não é a maior: a cada um real investido em educação no Brasil, pelos esforços da União, dos Estados e dos Municípios 82 centavos vão para Educação Básica e 18 ensino superior. O hoje, inclusive, o governo federal transfere muito mais do que transferia no passado, graças ao Fundeb atual. Fundeb que foi fruto de luta da sociedade civil, não era pauta nem do governo Lula fazer essa transferência toda. Isso é pra dessacralizar o governo Lula, no que trata da educação, mas naquele momento existia uma interlocução positiva em favor da área. Mas tinha luta e disputa. Várias vezes ganhamos do ministério da educação ou da fazenda. Mas havia espaço para uma interação positiva. O governo [Lula] não era contra a pauta da educação como é esse governo e como foi o anterior [Temer]. Ele era favorável, mas tinha outros constrangimentos econômicos, com outras áreas… ele não podia só beneficiar a educação…, mas a gente fazia a luta. Mas voltado aos cortes. A educação não é uma agenda positiva para o Bolsonaro, em si. O direito à educação não é uma agenda positiva para esse governo. O que ele aproveita da educação, o que traz ganhos para ele, é a idea de que a educação é uma ferramenta de propaganda ultrarreacionária. Isso é: O Escola Sem Partido, a defesa da educação domiciliar, a desqualificação da escola como espaço de cidadania. A educação, para o bolsonarismo, serve como uma política de controle, por isso ele defende a militarização de escolas. A educação é a expressão da agenda ultrarreacionária, em termos de valores. Ela serve para exprimir agenda ultrarreacionária pelos valores, disseminar e implementar esses valores. Mas, para fazer isso, ele tem que escolher os adversários, que são: a pedagogia, que é o oposto do que ele considera prioritário, como a disciplina autoritária. O outro adversário: a escola, que ele considera um espaço de desvirtuamento. Quando você coloca o teu filho na escola eles dizem que ele “vai sofrer uma doutrinação marxista e uma doutrinação de ordem sexual, desconstruindo as identidades de gênero”. E as universidades também são inimigas, uma vez que elas também são irradiadoras de valores. Elas têm o potencial de formação dos professores. O problema é que ele fazendo todo esse enfrentamento, ele ajuda muito a necessidade de corte dos ultraliberais. Porque, se as escolas e as universidades são espaços tão ruins e a prática pedagógica é algo tão condenável, então para que tem essa política? Então vamos cortar! Aí saem com uma proposta, absurda, de corte linear de 30% nas universidades. O que é inconstitucional, uma vez que são despesas obrigatórias. Não podem cortar 30% sem uma ampla justificativa porque isso vai significar a necessidade de demissão de pessoas, que têm estabilidade. É nessa hora que os ultraliberais encontram nos ultrarreacionários uma justificativa social para os cortes que querem implementar.
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