VIOLÊNCIA ENTRE AS QUEIXAS MAIS COMUNS
“Professor, você será o próximo a sair, vamos te expulsar.” A frase foi dita por um aluno armado ao professor de Língua Portuguesa do ensino fundamental e médio da rede estadual, Gilcinelio Serafim, 49. Isso aconteceu em 2016 numa escola na Serra, e a ameaça desencadeou problemas psicológicos no profissional. 'A violência é grande e isso me causou esgotamento profissional. Em 2017 acabei tendo um surto e atirei um pincel em um aluno. Temos que lidar com ameaças, alunos armados, acumular dois empregos para ter uma renda de R$ 4 mil e o poder público não nos dá nenhum apoio”, relata o professor, que continua afastado. Mas o episódio relatado por ele não é exceção. O diretor de saúde do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo (Sindiupes), Aguiberto Oliveira de Lima,ressalta que o alto índice de professores com doenças psíquicas está ligado às condições de trabalho em que eles estão inseridos. “Os profissionais são desvalorizados financeiramente e acumulam até três empregos para conseguirem se manter, mesmo podendo ocupar apenas dois; sofrem ameaças de alunos e precisam lidar com a falta de estrutura nas escolas, salas lotadas, além da falta de adaptação aos novos tempos. Um dos problemas é não acompanhar a tecnologia e se tornar um concorrente do celular ao invés de ter o aparelho para interação”, pontuou.
Para o coordenador de Pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Ítalo Curcio, além das condições de trabalho, o que tem contribuído para o aumento dessas doenças é a má formação dos docentes. “O professor despreparado se vê diante de problemas que não sabe resolver e isso gera problemas emocionais. Por outro lado, há os antigos que não conseguem aceitar o presente. Enquanto isso, as secretarias de educação pouco fazem para promover a atualização dos docentes.” O professor acrescenta que para mudar a realidade das escolas é preciso que cada Estado realize políticas públicas adaptadas a realidade do local, sendo que devem ser desenvolvidas junto à escola, alunos e familiares. “Apesar das críticas, a Base Nacional Curricular é uma espinha dorsal para a formação dos alunos, mas cada Estado precisa pensar nas próprias políticas”, disse.
O coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, acrescenta que os professores trabalham sob pressão e acabam lidando com todos os problemas da sociedade que desembocam na escola, como de saúde e de segurança pública. “Os professores não têm instrumentos para lidar com os problemas. Caso recebam aluno vítima da violência sexual, por exemplo, precisam enfrentar a situação. Mas para que consigam ajudar é preciso que as políticas públicas nas áreas da educação, saúde, segurança pública e social sejam integradas e que tenham mais investimento em cada uma delas”, finaliza.
Confira o link da matéria original: https://www.gazetaonline.com.br/noticias/cidades/2019/03/professores-afastados-por-licenca-violencia-entre-as-queixas-mais-comuns-1014172630.html