Pisa 2012 mostra que Brasil gasta pouco e mal com educação
O Brasil gasta o equivalente a US$ 26.765 (R$ 64 mil) por aluno nas idades entre 6 e 15 anos. A quantia representa menos de um terço do que gastam os países desenvolvidos avaliados no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) de 2012: US$ 83.382 (cerca de R$ 200 mil) por estudante. Considerando os 49 países para os quais a Organização para a Cooperação de Desenvolvimento Econômico (OCDE) conseguiu cruzar dados de investimento por estudante com o desempenho em Matemática, o país tem apenas o 38º maior gasto.
Os resultados do Pisa 2012, que avaliou 510 mil adolescentes de 15 anos em 65 países, mostram uma relação positiva entre os recursos investidos por aluno e desempenho, mas só até um certo ponto. De acordo com gráficos da pesquisa, a partir do investimento de US$ 50 mil por estudante, aumentar os gastos não significa melhorar a média de desempenho. De qualquer maneira, o Brasil gasta apenas metade desse valor. Segundo especialistas, é preciso investir mais e melhor.
A avaliação mostra também que em todos os níveis de gastos, os países de melhor desempenho tendem a distribuir recursos educativos de forma mais equitativa entre as escolas que atendem pobres e ricos. Nesse sentido, a recomendação do relatório é de que “o Brasil precisa encontrar formas de apoiar escolas desfavorecidas socioeconomicamente com maior intensidade, a fim de estabelecer a igualdade de condições para todos os alunos”.
O coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, ressalta que, diferentemente dos países ricos, o Brasil ainda está muito abaixo do ponto em que a quantidade de recursos investidos já não teria plena eficácia para melhorar o rendimento educacional.
Segundo ele, o governo federal ainda precisa investir mais em educação, especialmente por meio de transferências para estados e municípios via Fundeb. Cara justifica que toda essa verba seria necessária para estruturar um plano nacional de valorização do professor, que contemplaria não só a questão dos salários, mas também da formação e condições de trabalho.
— O Brasil deu um salto para permanecer no mesmo lugar, e isso é preocupante. O gráfico do ponto ótimo de eficiência diz muito sobre a gestão dos recursos, mas o Brasil ainda se encontra muito abaixo desse ponto. Precisamos investir muito mais do que estamos fazendo atualmente. Todos os países ocidentais com bom desempenho no Pisa têm um plano de valorização de professores bem estruturado. Precisamos de verbas para ter o nosso — diz Cara.
O exemplo mais extremo de eficiência é o Vietnã, que é o 13º em desempenho e o último em gasto. O Pisa aponta outras discrepâncias nos extremos. Luxemburgo é o país que mais gasta, mas é apenas o 25º em desempenho.
Para o pró-reitor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e membro da Academia Brasileira de Educação, Antônio Freitas, o investimento é fundamental para o desempenho do aluno, mas o mais importante é a gestão:
— Se você tem um monte de professores que não têm a preparação adequada para praticar um bom ensino, não adianta colocar mais dinheiro, pois isso não garantirá um resultado superior. O Brasil tem destinado mais de 5% do PIB ao setor, e quer chegar a 10%. Mas o país investe mal. O principal investimento é formar professores que conheçam em profundidade a disciplina que ensinam e dominem as tecnologias para manter os alunos envolvidos com o conteúdo.